O povoamento do Raminho, tal como acontece com os Altares, paróquia a que pertenceu até 1878, parece ter prosseguido de leste para oeste, provavelmente a partir do núcleo inicial de povoadores que se instalou nas Quatro Ribeiras. O Raminho terá assim sido, a par do povoado hoje desaparecido da Fajã, uma das últimas povoações da ilha a surgir.
A origem do topónimo
Aparentemente devido à riqueza em folhado das florestas que recobriam aquela zona da ilha, a região que hoje corresponde à freguesia do Raminho era designada por Folhadais, topónimo ainda hoje presente na Grota dos Folhadais. A partir do século XVI aparece a designação de Raminho dos Folhadais, aparentemente por oposição ao Ramo Grande, a designação dada pelos povoadores ao outro extremo da costa norte da ilha. Tal seria explicado pela exiguidade do território raminhense face à grande planície do nordeste terceirense.
A evolução da actividade agrária
A lavoura sempre foi a principal actividade da população do Raminho, desde os tempos dos primeiros povoadores. Desde esses tempos pioneiros, foram introduzidas culturas destinadas à alimentação dos habitantes locais, como o feijão e o trigo, a que se seguiram séculos depois o milho, a batata, e a batata-doce. O Raminho foi também um importante centro da cultura do pastel e da recolha da urzela, plantas tintureiras que eram exportadas e constituíam as principais mercadorias exportadas daquela zona da ilha. A produção de linho também teve relevo, a que estava associada uma importante produção doméstica de tecidos de linho, a que se juntavam os tecidos de lã, produzidos a partir de ovelhas que pastavam nos altos da Serra de Santa Bárbara. Mais tarde surgiu a cultura das favas, das ervilhas e dos tremoços, produtos que eram vendidos para os mercados urbanos da ilha e exportados.
A freguesia era também conhecida pela sua produção de musgo para cabeceiras. Este produto, utilizado para encher almofadas, era constituído por esfagno recolhido nas zonas altas da Serra de Santa Bárbara, que depois de seco era desfiado até adquirir a consistência desejada. Era vendido em toda a ilha.
Os solos da freguesia são de boa qualidade à beira-mar, mas a parte alta da freguesia é recoberta por uma espessa camada de pedra-pomes, localmente conhecida por bagacina branca. O aproveitamento desses solos exigiu o desenvolvimento de uma técnica de movimentação da camada superficial e seu recobrimento com material retirado do paleossolo que se encontra sob a camada de bagacina. Para tal eram abertas, à pá ou com uma escrepa puxada por animais, escavações rectangulares com alguns metros de profundidade, das quais era extraída a terra que era redistribuída sobre a superfície dos campos. Esta técnica deixou marcas que são visíveis nas imagens aéreas da zona alta da freguesia sob a forma de depressões rectangulares na zona mais baixa dos cerrados.
A integração nas capitanias e concelhos
Quando em 1474, o território da ilha Terceira foi dividido nas capitanias da Praia e de Angra, o limite na costa norte da ilha foi fixado algures entre a Ponta Negra e a foz da Ribeira de Lapa, provavelmente coincidindo com a margem oeste do biscoito da Ponta Negra. O Raminho dos Folhadais ficou assim na esfera da capitania de Angra, embora a sua população, tal como a dos Altares, tivesse maior afinidade familiar e melhor comunicação com os povos da Capitania da Praia.
A partir de 1565, quando, ouvidas pessoas experientes na geografia da ilha, por acórdão de 1565 do Tribunal da Relação da Corte, em pleito que longamente opôs os capitães do donatário de Angra e Praia, respectivamente Antão Martins e Manuel Corte-Real,[ o limite avançou cerca de 5 km para noroeste. A demarcação final foi feita, recorrendo a pilotos, e ficou concluída a 8 de Julho de 1565, pondo termo a um pleito que durava há várias décadas (pelo menos de 1525) sobre o limite dos Altares. Em consequência, a parte leste da freguesia, entre o Cerro da Ribeira dos Gatos e a Ponta Negra, pertencia à capitania da Praia, enquanto a parte oeste, do Cerro da Ribeira dos Gatos ao Biscoito da Fajã, pertencia à capitania de Angra. Esta divisão não foi pacífica, tendo requerido a intervenção real, e materializou-se na instalação de um marco (ainda lembrado pela toponímia do local onde se situou, a Cruz do Marco) no extremo mais próximo do mar do Cerro da Ribeira dos Gatos, frente à boca da Canada das Almas. Como consequência desta alteração, o Raminho dos Folhadais continuou a pertencer à Capitania de Angra, enquanto o território dos Altares, a cuja paróquia o Raminho continuou a pertencer, transitou para a Capitania da Praia.
No campo municipal a freguesia pertencia ao termo da vila de São Sebastião, como o atestam múltiplos documentos referentes à cultura e à fiscalidade do pastel, mas a distância em relação à sede do concelho e o isolamento imposto pela cadeia de montanhas que se lhes entrepõe, fez com que o poder municipal fosse localmente pouco intenso e que o relacionamento preferencial se fizesse com a vila da Praia. Para complicar ainda mais esta situação, a divisão entre capitanias levava a que a jurisdição da Praia abrangesse o centro da freguesia dos Altares, deixando a Canada dos Morros, os Folhadais (hoje Raminho) e a Fajã na órbita do capitão-do-donatário de Angra. Assim, se é seguro que os Folhadais (Raminho) foram sempre parte do concelho da Vila de São Sebastião, já no caso dos Altares, a partir do século XVIII foi forte a influência dos edis praienses.
A clarificação da pertença concelhia da freguesia aconteceu em 1870, ano em que o concelho de São Sebastião foi de facto extinto e se redistribuíram as freguesias da ilha. Cessou então a influência do concelho da Praia, passando o Raminho a pertencer ao concelho de Angra do Heroísmo. Nessa mesma altura foi redefinido a demarcação leste da freguesia, fixando-se o limite na parte mais alta do cerro que desemboca no Cabo do Raminho, o que deixou as terras da Fajã, então ainda povoadas, na freguesia da Serreta.
A formação do curato e a autonomia paroquial
Desde 1684 que por decisão do então bispo de Angra, D. frei João dos Prazeres, a Ermida da Madre de Deus do lugar dos Folhadais tinha cura nomeado, dada a distância a percorrer até à paroquial de São Roque dos Altares.
Com o crescimento da população, naturalmente surgiu a necessidade de autonomia paroquial. Para tal procedeu-se à ampliação da Ermida da Madre de Deus, formando-se, por alvará de 25 de Janeiro de 1856, do governador civil Nicolau Anastácio de Bettencourt, uma comissão fabriqueira encarregue de angariar fundos e de conduzir a obra. A obra acabou por derivar na substituição da antiga ermida por uma igreja, a qual ficou concluída em 1861, constituída por três naves, espaçosa e em estilo neo–romântico. Tem duas torres de sineira e foi consagrada a São Francisco Xavier.
Concluída a igreja, na sequência de representações várias solicitando autonomia para o lugar, em 1861 o Raminho foi elevado a curato independente por provisão do bispo D. frei Estêvão de Jesus Maria, confirmada por decreto de 14 de agosto de 1861 «creando um curato no logar do Raminho, suffraganeo de S. Roque dos Altares, do mesmo districto».
Pouco depois, a 11 de Julho de 1878, por iniciativa do deputado visconde de Sieuve de Menezes, um decreto recebido pelos raminhenses com Te Deum e sermão pregado por Monsenhor José Alves da Silva,[9] mas com forte contestação por parte da população dos Altares, elevou o Raminho a freguesia. Na mesma data foi também criada a freguesia das Cinco Ribeiras.
O principal problema centrava-se na delimitação da freguesia ao longa da Canada dos Morros, com os raminhenses a insistirem que o limite deveria coincidir com a posição do antigo marco das capitanias, na boca da Canada das Almas, e os altarenses a contrapor que o Treatro do Meio (nome resultante de ali ser montado um antigo treatro do Divino Espírito Santo) e a Canada dos Morros deveriam permanecer na sua jurisdição.
Depois de anos de discussão, e de várias assuadas entre freguesias e do marco de delimitação ter sido movido e destruído várias vezes, o limite acabou na boca da Canada dos Morros, na Cruz do Marco, ficando o Treatro do Meio no Raminho e a Canada dos Morros nos Altares. Desta contenda resultou que as casas sitas no lado oeste da Canada dos Morros são dos Altares, mas os terrenos rústico confinantes são do Raminho. Daí que o marco de separação entre freguesias não esteja no mesmo alinhamento, o dos Altares, junto ao chafariz da Cruz do Marco, a leste da Canada dos Morros, o do Raminho quase uma centena de metros para oeste, já bem internado no Treatro do Meio, deixando uma curiosa terra de ninguém entre eles.
A par com os Altares, a freguesia do Raminho foi a última do concelho de Angra do Heroísmo a ter electricidade, com a sua rede de distribuição domiciliária a ser inaugurada no dia 6 de Julho de 1969. A distribuição domiciliária de água apenas foi conseguida na década de 1980.
O terramoto de 1980 causou graves danos na freguesia, obrigando à reconstrução da quase totalidade do seu parque habitacional. Também provocou grandes desabamentos na arriba costeira, destruindo o acesso a vários pesqueiros e o atalho (a «descida») de acesso à nascente de água mineromedicinal da Água Azeda do Cabo do Raminho, um manancial situado na zona entremarés nas proximidades da Ponta do Raminho que era aproveitado para fins medicinais.
A principal festa religiosa do Raminho realiza-se anualmente no último domingo de Agosto em honra do Sagrado Coração de Jesus.
A Procissão dos Abalos
Na noite de 1 para 2 de Junho de 1867, após muitas semanas de intensa sismicidade, que provocou grandes danos nas freguesias de Serreta, Raminho e Altares, iniciou-se uma erupção submarina a cerca de 9 milhas naúticas da Ponta da Serreta, na área contígua à Baixa da Srreta, hoje cohecida por Vulcão da Serreta. A erupção estendia-se por uma faixa de mais de 2,5 milhas naúticas de comprido na direcção EW e terminou cerca de um mês depois. O local onde ocorreu é sensivelmente o da recente erupção de 1998 e 1999. Relembrando a procissão que foi deita na véspera da erupção, na freguesia do Raminho ainda se realiza anualmente, a 31 de Maio, a Procissão dos Abalos.
É uma procissão com um cariz diferente das restantes que se realizam na ilha, já que se faz de madrugada (por volta das 6:00 horas), em silêncio, transportando apenas as coroas da Irmandade do Divino Espírito Santo. Os participantes vestem as suas roupas de trabalho. Chegados ao alto da Ponta do Raminho, em local sobranceiro ao ponto do mar onde se deu a erupção, há missa campal e sermão. A procissão regressa então à igreja do Raminho, com os participantes a ficar nas suas residências à medida que a procissão por elas passa.